sábado, 27 de junho de 2009

Será que tem alguém?

Bom, ontem fui ao Hard Rock Calling, onde assisti ao show do The Kooks e The Killers. Prometo que farei um texto sobre (e será o próximo, ou não, ainda falta Amsterdam). O que adianto é que a primeira banda não chegou nem aos pés da segunda. Empolgou menos do que deveria. Ou Killers que foi tão grandioso que ofuscou totalmente o brilho do Kooks? Acho que não.

Enfim, como já disse, o texto não é sobre o show. É sobre aquelas “lições” que vêm sem mais nem menos, e que nos são muito úteis.

Estava eu caminhando em Oxford Street às duas da tarde de ontem, quando fui abordado por um “flyer guy”. Curiosamente, aceitei o papel e segui meu rumo ao Green Man, pub que costumo ir devido ao baixo preço da cerveja (£ 1,99 o pint de Carlsberg). Digo que é curioso porque geralmente eu nego esses flyers. Mas enfim, por alguma razão este eu peguei e guardei no bolso.

Chego ao pub, peço uma porção de camarão à milanesa e uma Pepsi com limão e gelo (é sério isso, estava com muita vontade de tomar). Encerro meu “prato” e aí sim peço uma cerveja. Em meio a goles e conversas (com o Digão), tiro o papel do bolso.

Tratava-se de um questionário pra ver o quão estressado sou. Até pensei em fazer, mas vi que eram míseras 150 perguntas, aí é brincadeira. Já ia amassar a folha quando do nada me deparo com a seguinte frase, no verso:

“When live becames a battleground, your mind is your best weapon”.

Traduzindo: quando sua vida se transforma em um campo de batalha, sua menteé a sua melhor arma.

Sabe aqueles momento em que o tempo dá uma paradinha de leve e tu não sabes se ris ou ficas sério? Incrível como as coisas podem acontecer na hora certa e no momento certo. Às vezes parece que tem alguém cuidando da gente, alguém que a gente não conhece. Uma pessoa que está ali pra te dar as dicas, pra te dar as soluções. Chega a ser duro de acreditar.

Repito, que hora, que momento. Não precisei de mais nada, meu dia estava ganho.

Restou-me seguir o aquecimento e curtir o show. E como curti. Se meu gosto musical fosse campeonato de pontos corridos, The Killers teria dado uma subida gigantesca na tabela. The Kooks, em compensação, no máximo manteria seu posto intermediário.



Quem disse que a solução para os problemas não está dentro do copo?

"Cerveja, a causa e solução de todos os problemas!" - Homer J. Simpson

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Viver, lembrar e viver a lembrança.

Texto publicado no Diário da Manhã em maio.

Intercâmbio é algo muito legal. Abrem-se as portas de novas culturas, hábitos e costumes. O que antes era comum agora não é mais, o que era rotina vira exceção e o que um dia foi abundante agora é escasso. É um novo mundo repleto de novidades.

Geralmente, as experiências que se apresentam estonteiam o viajante. Fazem com que ele esqueça, momentaneamente, de onde veio. As novas comidas típicas, bebidas, músicas e pessoas; todos são territórios hostis prontos para serem desbravados. As horas passam, os dias se vão e as semanas se perdem em meio a tanta euforia. Arrisco-me a dizer, ainda, que em Londres essa variedade de tentações até então inexploradas é ainda maior. Afinal de contas, é o meio do mundo. É onde tudo acontece e para onde todos querem vir.

No entanto, com o passar dos meses, o viajante volta a si. Percebe que se esbaldou de tal forma que talvez tenha perdido sua identidade. Enxerga-se no espelho de uma maneira diferente. Mais vivido, mais experiente. Mas é ainda o mesmo?

É nesse momento que bate uma necessidade avassaladora de readquirir os hábitos de sua pátria-mãe. Em uma mescla de orgulho e nostalgia, o viajante faz todo o possível para deixar bem claro uma mensagem implícita: estou aqui, mas sou de lá, e pretendo um dia voltar.

De repente, ver um gringo de Havaianas ganha um significado imenso, encontrar um disco do Caetano Veloso nas lojas recebe um destaque incrível e ouvir pessoas falando português no metrô passa a ser extremamente reconfortante. Qualquer roupa, comida ou bebida proveniente da terrinha passa a trazer consigo um poder enorme: o de fazer com que o viajante se sinta mais perto de casa.

Na ausência dos familiares e amigos, o viajante se apega àquilo que remete à realidade do local em que sempre vivemos. Àquelas coisas que fazem lembrar épocas distantes, acontecimentos específicos e encontros inesquecíveis. A saudade dá as caras de uma forma jamais imaginada. Ela não mede tempo nem intensidade. Apresenta-se em um rebuliço que engloba infância, colégio e faculdade. Confunde o viajante, fazendo com que deseje profundamente ter uma máquina do tempo. Faz com que o presente não pareça tão brilhante e que o passado alcance o posto de insuperável perante a árdua tarefa de “aproveitar a vida”.

Mas é nessa hora que surge outro fator importante: o bom-senso. Se hoje sinto falta do que já fui, amanhã sentirei falta do quê? A resposta é simples: daquilo que estou vivendo agora. E assim sempre será. A missão, portanto, é fazer do dia de hoje um dia sempre melhor, que supere o anterior.

Lembrar é bom e sentir falta é ainda melhor. Não é judiação, é realidade. Um homem que não tem do que lembrar é um homem que não viveu. Sentir falta é saber que, em algum momento do passado, fizemos algo que valeu a pena. Algo que foi satisfatório o suficiente para se tornar inesquecível.

Portanto, o importante é viver, mas sempre lembrando. Lembrando daquilo que já fomos, daquilo que já vivemos. E mais importante que isso, lembrando que, se vivermos ao máximo o dia de hoje, estaremos acrescentando mais um acontecimento à lista dos fatos dignos de lembrança.

domingo, 21 de junho de 2009

Simplesmente Athlete

Simples. Se eu tivesse que descrever o show em uma palavra, seria essa.

Portões (que na verdade eram uma porta de auditório) com abertura marcada para as 19h. É show do Athlete! Quem diria, Athlete! Jamais imaginei ter a oportunidade de assistir a um concerto da banda.

Quatro da tarde e sento em um tradicional pub galês pra aquecer. Pint de Greene King por £ 1,30, é o paraíso! Bebo, bebo e bebo. Pilhas à mil. Quinze pras sete e ainda estou sentado na mesa do bar. Droga! Queria conseguir um lugar bom, melhor ir logo.
Com “Cardiff University” escrito no ingresso, tudo levava a pensar em um grande espetáculo (apesar dos míseros £ 15,00 de entrada). Já estava arrependido por ter demorado tanto tempo bebendo cerveja. Mas não é que chego lá e o movimento é zero? Ninguém por perto, nenhuma fila.

Assustado, pergunto ao único grupo de pessoas por perto: Vocês sabem aonde é o show do Athlete? Claro! - dizem eles. “Estamos indo pra lá, é só nos seguir.” Assim foi feito. Após escadas e escadas, estamos no local. A simplicidade do que vi foi de apavorar. Parecia (e sem mentira isso), churrasco do DCE. Sou o primeiro da fila. Isso é, se houvesse uma fila. E olha que já eram quase sete e meia!

Meia dúzia de outros fãs chegam ao local, e em seguida o segurança (estudante) libera a entrada. Entro e não creio no que vejo. Um barzinho, com algumas mesas metálicas e um palco pouco maior que o do NY. No canto, uma lojinha vendendo material da banda. A iluminação praticamente não existia e a decoração era totalmente nula. Os demais fãs (se é que eram tão fãs) sentaram-se nas mesas e por lá ficaram. Eu fiz diferente.

Não poderia perder a chance de ficar tão perto da banda. Grudei no palco e lá fiquei. Cerveja e cerveja, começa o primeiro show de abertura. Um rapaz (não em seus melhores momentos) entra e de cara pergunta o nosso nome (o Digão também foi ao show). “Tomás e Rodrigo, somos do Brasil.” Sem mais nem menos o tal “Ian” nos dedica uma música. Mais que isso, ao seu fim fala com as exatas palavras “I was sharing some beers with these great guys, my best friends, from Brazil.” Foi demais! Mas o importante é o Athlete. Por isso sequer vou citar a segunda banda de abertura (e de fato não merece ser citada).

Mais de nove horas e nada. De repente entra o Roaddie, dá aquela última afinada na guitarra e sai. Entra a banda. Todos de preto, com calças, sapatos e camisas simples. Qualquer espécie de produção parece ter sido dispensada. Simples assim.
A primeira música foi inédita, do novo cd. Não conhecia, então fiquei meio quieto. Com a mesma calma que entraram em palco, começaram a tocar a segunda música do set list. You got the style, simplesmente demais. O refrão da música parecia descrever exatamente o que estava acontecendo com o ambiente do local:

“Oh, it’s getting hot in here, must be something in the atmosphere.”

E era. Não demorou muito mais até o “público” se soltar (não se pode chamar de público menos de duzentas pessoas, pode?). Enfim, acaba a segunda música e lá vem ela, a mais esperada. Com cacife pra ser o “gran finale”, Half-Light veio já como terceira da lista.

E a simplicidade a que me referia pode ser observada nessa música. O riff é muito, mas muito simples. É, também, extremamente pegajoso e contagiante. Quem conhece sabe. Aí não deu outra, foi tudo pro espaço. Todo mundo pulando, gritando e cantando. Mas o Joel (vocalista) parecia querer ainda mais, por isso dizia:

“Tell the sun to start moving again!”

Sensacional. Essa é a hora do texto em que eu não consigo nem a pau descrever o sentimento do momento. Não dá. De repente no vídeo dê pra ver algo!
Uma paradinha na análise das músicas pra tentar mostrar o quão “particular” foi o show. No final de uma das músicas, o Joel viu que eu estava filmando e fez um final de positivo ao encerrar sua participação na guitarra. Óbvio que eu, mongolão que sou, me emocionei e baixei a câmera bem na hora.

Seguindo, depois de algumas outras ótimas músicas, chegou aquela que me surprendeu: Hurricane. É a melhor música do terceiro disco e já parecia ser algo bem legal de se ouvir ao vivo. Mentira, é ainda melhor que isso. Parece ter encaixando exatamente com o que sentia no momento. Embalei de tal forma que não queria que acabasse nunca.

"This is something we gotta get used to."
"This is something we gotta get used to."
"This is something we gotta get used to."


Mas depois de três minutos e treze segundos acabou. Mas não deu tempo de lamentar. E aqui mais uma mostra da simplicidade da banda. Na hora do tradicional break, ao invés de ir até o camarim (duvido que houvesse algum) e dar aquele tempinho pro público esquentar pras últimas músicas, eles foram bem diretos. “Vamos simplificar isso. Vocês gritam um pouquinho e batem umas palmas e nós nem saímos daqui.” E assim foi.

E finalmente, Wires. O hit da banda, se é que Athlete tem algum hit. Mas se o tivesse, sem dúvida esse o seria. Numa mescla de empolgação pelo que ouvia e tristeza pelo que viria, preferi abrir mão de qualquer pensamento e só me deixei levar pelo som.

E como o próprio refrão anunciava, assim acabou o show. Com a banda literalmente “running down corridors”. Não esperaram por nada, simplesmente saíram do recinto pelo meio do público, aplaudidos de todas as formas.

Simples como chegaram, saíram. E não ficaram devendo nada.

Alguns vídeos.

You got the style



Hurricane



Wires



ps.: não ia ao show pra não cantar! perdoem minha performance, hehe.

sábado, 20 de junho de 2009

With a little help from my friends

Tem horas que o cara se entrega. É difícil e desgastante, o cara tenta. Esforça-se ao máximo, se distrai, faz o que quer e o que não quer. Tudo pra abstrair. Às vezes não dá.

Quando não dá, mais o cara tenta. Consegue, tem que conseguir. Algumas coisas não podemos nos dar o luxo. É seguir tentando, seguir tendo sucesso. Até não dar mais.

E o que fazer quando não se tem mais forças? Quando toda a resistência àquilo que te escurece a mente parece ter ido por água abaixo?

É aqui que entram os amigos. Aqueles que sabem quando tu precisas deles, e nunca, nunca vão te deixar na mão.

Uma amizade verdadeira não há distância que separe, fronteira que barre ou oceano que afunde. Mais que isso, não há tarifa de DDI que desligue. A sintonia segue a mesma, e eles sabem, e como sabem.

Sabem o quão importantes e necessários são. Por isso estavam ali quando precisei. Situações como essa só demonstram o quão especial são, o quão bom foi tê-los conhecido e o quão sortudo sou.

Por essa e outras, tenho pena daquelas pessoas que conhecem um novo colega e depois de dias já o chamam de “amigo”. Amigos novos são sempre bem-vindos, mas sinceramente, algumas coisas só vêm com o tempo, e disso eu não tenho a mínima dúvida.

Amigo não é aquele “parceiro pra festa”. Amigo é o que vai na festa e não se esquece de ser amigo. É o que te liga às quatro da manhã só pra levantar o teu astral, não interessa se tu estás dormindo ou não.

É o que depois de te ligar as quatro, te liga as cinco pra te fazer falar com um pirata, só porque ele é engraçado. É o que liga quinze minutos depois pra dizer que te ama, e que sente tua falta.

Porque amigo ama, e ama mais do que qualquer amante. Porque amigo é amigo. Depois da família, é quem temos de mais especial. É quem escolhemos para compartilhar nossos melhores e piores momentos. É quem escolhemos para ajudar e ser ajudado.

E agora eu tenho certeza. Sei que aquele papo de “pra sempre, cara”, é verdadeiro. No meu caso, pelo menos, é. Já achava que era, mas depois de ontem tenho certeza. Só me resta agradecer.

Por essa e por outras que o Ringo é rei. Em meados de 1967 já cantava a pedra:

How do I feel by the end of the day
“Are you sad because you’re on your own?”
No, I get by with a little help from my friends.
Mmm, I get high with a little help from my friends,
Mmm, I’m gonna try with a little help from my friends.


Sem mais.

Próximo post, show do Athlete!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Publicidade agressiva: positiva ou negativa?

Se tem algo ruim em estar vivendo em Londres apenas estudando, é o sentimento de inutilidade. Tenho aprendido e crescido bastante, estudado inglês, francês e até um pouco de espanhol. Mas convenhamos, curso de idioma é e sempre será uma atividade complementar.

Pois então, tenho observado bastante a publicidade daqui. Faço isso sem qualquer método ou regra, apenas analiso para mim mesmo. Sempre pego o material que disponibilizam na rua, flyers, folders, revistas e afins. Outdoors, busdoors e demais mídias, tento não deixar passar nada.

O mais curioso, no entanto, é a liberdade que os britânicos têm por aqui. Não há nada que os impeça, legal ou moralmente, de inserir a concorrência em seus anúncios.

O Sainsbury’s, por exemplo, é campeão de fazer isso. Trata-se de uma das maiores redes de supermercados londrinos. Na etiquetação dos preços, eles declaram abertamente a rivalidade existe em relação ao Tesco, outro gigante do ramo. Todos seus preços acompanham o dizer “melhor preço, conferido com o do Tesco.”

A rivalidade mais declarada, no entanto, é a Costa-Starbucks. Não por parte do último, que prefere adotar uma abordagem mais “elegante” diante da disputa (e tem o café muito melhor, hehe). O Costa publica quase que diariamente anúncios nos mais diversos jornais da cidade. Todos eles literalmente bombardeando o concorrente. Fica aí a imagem exemplificando (se ficar muito pequeno é só clicar que dá pra ver. é logo abaixo da chamada!):


Acho que essa relação entre os concorrentes é uma faca de dois gumes. Por um lado, é bom saber que se tem essa liberdade para publicação de material publicitário. Dá uma sensação de que se pode “pensar sem limites”. Mas será que esse limite não parte por outro lado?

Na curta experiência que tive aí no Brasil, percebi que é preciso se desdobrar pra pensar em algo inteligente, em algo novo. Naquela chamada que tu olha e pensa “puta, matou a pau”. É preciso combinar criatividade e inspiração em seu auge. Não é fácil, mas quando sai, é muito bom, é de dar orgulho.
Com o tempo, aliás, “vai saindo mais fácil”. Quanto mais o cara pensa, melhor o cara fica. As coisas vão saindo ao natural.

Antes de dizer o que vou dizer, queria esclarecer que a publicidade aqui é de altíssimo nível, muito boa mesmo. Se possível vou seguir postando mais exemplos.

Como dizia, será que essa tal liberdade para se “falar mal” do adversário não acaba por enterrar a criatividade? Não fica faltando aquela perspicácia e elegância na hora de publicar algo?

Fico com a impressão de que a empresa deixa de se valorizar e passa apenas a agredir o concorrente, tentando assim estragar sua imagem. Mas esse efeito não pode ter o efeito contrário? O público não pode enxergar isso como uma agressividade desnecessária? Será que não fica muito fácil pensar em algo?

Enfim, era isso que gostaria de compartilhar. Usem o espaço para comentar sobre o que acham, principalmente os publicitários. Os demais também são bem-vindos!

sábado, 13 de junho de 2009

Uma noite no O2 Empire... com Keane!

A idéia era postar textos que mandei pro jornal, mas vou mudar um pouco esse conceito. Até porque não teria sentido em escrever coisas mais pessoais lá. Também acho que não adianta falar apenas sobre o que sinto e nada sobre o que faço.

Por isso vou escrever um texto sobre o show do Keane que fui. Não lembro a data exatamente, mas foi na última semana de maio, no O2 Empire.
Estava em dúvida, pois já havia gastado uma fortuna em shows. Quando decidi comprar, os ingressos já haviam esgotado. Aí sabe como é, quanto mais difícil, mais a gente quer. Que nem criança.

Entrei no ebay e achei um usuário vendendo o ingresso pelo mesmo preço de bilheteria. Nem pensei duas vezes. Paguei e quatro dias depois já estava com ele na mão.

Como ia sozinho, fiquei receoso de não aproveitar, mas me esforcei ao máximo e deu tudo certo. Cheguei duas horas antes da abertura dos portões. Fui ao Oneill’s da esquina, tomei uma Guinness Red, que por sinal não recomendo. Logo, faltando pouco mais de meia-hora, entrei na fila. Em seguida já estava lá dentro.

O lugar é pequeno, mas sensacional. Três andares com bar e banheiro em todos. Cadeiras novas, estofadas e confortáveis. Aconchegante e elegante. Pra não perder o embalo, tomei mais algumas cervejas.

Detalhe é que as cadeiras não eram numeradas, o que foi excelente para mim. Como cheguei cedo, pude escolher o melhor lugar, pelo menos no andar em que estava. Fiquei muito, muito próximo do palco.

Como o evento não era simplesmente um show do Keane, mas sim a semana comemorativa de cinqüenta anos da Island Records (gravadora que entre outros artistas conta com U2, Amy Winehouse e Bob Marley em seu catálogo), tive que amargar dois shows chatinhos pra “esquentar” o público.

A primeira banda foi “Ladyhawke” e a segunda nem lembro. Pra ser sincero, não quero perder tempo com isso. Vamos direto ao que interessa: Keane.

No último intervalo antes do show fui ao bar reabastecer o estoque de cevada. Comprei duas Carlsbergs e coloquei uma ao meu lado, no chão. Não queria perder um segundo sequer.

Finalmente chegou a hora, o apresentador da noite anuncia: Ladies and gentlemen, put your hands together for KEANE!

Não preciso dizer que a galera foi a loucura, assim como a banda. Entraram animadíssimos, já tocando. A primeira música foi “Spirraling”, muito bem escolhida por sinal. É empolgante e contagiante. Logo em seguida, Tom Chaplin cumprimenta o público e já larga, sem mais nem menos, aquela frase que todo mundo conhece:

“You say you wander your own land...” – foi foda!

Parece que não deu tempo nem de assimilar, parecia irreal. Tantas vezes fui ao NY e delirei ao som dessa música. Agora eram eles, os reais autores. Ali, a minha frente, tocando as mesmas notas que tantas vezes já compartilhei com todos meus amigos e com a Galaxy, no Pub. Impossível descrever o que senti.

Acabou a música e pensei “nossa, agora acalma.” É claro que não. Tom solta “This is the Last Time...”. Provavelmente minha favorita, é o que eu achava. Uma vez mais fui a loucura. Incrível.

Pensei que poderia ser ruim começar com todas as boas, não sobraria nada pro final. Foi aí que a banda começou a tocar “Perfect Symmetry”, faixa-título do último cd. Puta, aí fodeu tudo. A música em si é toda sensacional, mas o final matou a pau. Na tradicional paradinha de qualquer hit, o teatro parou e o Tom começou a berrar “Wrap yourself arooooound me, wrap yourself aroooooound.”, acompanhado pelos acordes, que voltaram ainda mais potentes. Completamente estonteado e sem saber o que fazer, simplesmente peguei minha Carslberg, tomei um baita gole e pensei: cara, do caralho!

Poderia falar de todas as músicas, “Somewhere Only We Know”, “The Lovers are Losing”, “Playing Alone”, etc. São muitas. Keane é definitivamente uma banda criadora de hits. São apenas três cds, mas eles já conseguem rechear um set-list com 18 hits famosos.

O último destaque, na minha opinião, vai para Crystal Ball. Nessa o público, a banda, os seguranças, eu e todo mundo enlouqueceu. Parecia que o teatro viria abaixo. A prova disso é que o próprio vocalista se jogou no meio da galera, sem mais nem menos.

Enfim, é isso. Um baita show. Sei que muita gente não gosta de Keane, muitas vezes nem os consideram uma banda de rock. O principal argumento é que eles só usam piano, bateria e voz. Pois bem, é mentira. Agora a banda conta com um baixista e o próprio Tom Chaplin toca guitarra.

Claro que ninguém é obrigado a gostar, mas sinceramente? Duvido que alguém fosse ao O2 Empire naquela noite e não se emocionasse. Sem dúvida, um show maravilhoso. E como não sou egoísta, aí vão alguns vídeos pra vocês!

No mais, saudades!

Crystal Ball




Somewhere Only We Know




Perfect Symmetry




Playing Alone

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um povo sem unidade, mas único

Os olhos puxados dos chineses, o charme das francesas e a burca das muçulmanas. O sotaque dos latinos, o cabelo loiro das suecas e o físico vigoroso dos alemães. O cabelo espetado dos japoneses, a pele morena dos indianos e o jeito desleixado dos argentinos.

Em Londres se convive diariamente com estereótipos, e em grande variedade. Depois de viver algum tempo por aqui, fica mais fácil reconhecer a origem das pessoas. Nacionalidade, religião e cultura: são características que passam a ser vistas a olho nu.
Muitas vezes o intercâmbio cultural sequer existe, e nesses momentos essa classificação fica ainda mais simples. São as festas voltadas para os latinos, os pubs irlandeses e as noites de karaokê dos japoneses. O que era para ser intercultural se transforma em algo exclusivo de cada povo.
O momento de maior interação entre as diferentes culturas acaba sendo na própria sala de aula. Os professores, inclusive, estimulam isso. Formam duplas de trabalho estritamente internacionais.
E foi na sala de aula que pensei pela primeira vez em uma situação que até agora indago: o que caracteriza o brasileiro para um estrangeiro? Como ele sabe que somos brasileiros? Ele sabe? Qual é nossa principal característica? Tal característica realmente existe?

Sinceramente, não sei.

Eu mesmo nunca me passo por brasileiro, mas sim por espanhol e, infelizmente, argentino. No início me chateava a respeito, mas aos poucos percebo que não posso culpá-los. Somos o quinto maior país do mundo tanto em extensão territorial quanto em população, fazemos fronteira com dez países da América Latina e sentimos, até hoje, os reflexos da mescla cultural obtida desde os tempos de colonização.
Não penso que representamos um país sem identidade, muito pelo contrário. Todos nos conhecem, sabem do que gostamos e o que fazemos. Futebol, Rio de Janeiro, carnaval, praia e havaianas. Ao descobrirem que sou brasileiro, são sempre estes os tópicos mencionados pelos gringos. Há também a parte da pobreza, das favelas, do tráfico e do submundo, mas isso é assunto para outra oportunidade.
Voltando ao papo de uma ‘identidade’ nacional, tentei dissecar o fato aos poucos. Pensei então na beleza da mulher brasileira, mas fiquei ainda mais confuso. Gisele Bündchen, Juliana Paes, Fernanda Lima e Alessandra Ambrósio. São todas lindas, mas há algo em comum entre elas? Loiras, morenas, mulatas, magras, olhos verdes, castanhos ou azuis. Não há unidade na beleza da brasileira. Enquanto as francesas são charmosas e as tchecas misteriosas, as nossas mulheres são o quê?
Insatisfeito, cheguei ao futebol, afinal de contas somos exportadores de craques e os únicos pentacampeões do mundo. Mas há unidade nisso? Ronaldo Nazário é atacante, Ronaldinho Gaúcho é meia e Kaká é armador. Já a Argentina é famosa pelos seus goleiros e a Alemanha por seus zagueiros, e nós? Uma vez mais não temos uma característica única e específica. Simplesmente temos ótimos jogadores.
Quem sabe, então, nosso sotaque nos denuncia? Duvido. Penso na dificuldade que tenho para entender baianos e nordestinos em nossa própria língua e essa teoria já se desfaz por terra. Até porque eles também devem sentir a mesma dificuldade para me entender.
Ainda não sei a razão para isso, mas sempre que vejo um brasileiro, percebo na hora. Não sei se é o jeito de andar, o modo de se vestir ou a irreverência de ser. A verdade é que, entre nós, nos conhecemos. Sabemos que viemos do mesmo país, independente do estado. Há algo intangível, uma espécie de aura invisível que nos diz: somos do mesmo lugar. Parece mentira, mas realmente acontece, é como um radar. Concluo, portanto, que há sim algo que nos identifica, pelo menos entre nós. Mas sigo sem saber exatamente o que.

Penso que, talvez, seja exatamente isso que nos diferencia: a ausência de algo em comum, a escassez de estereótipos. Ou melhor, escassez apenas em um cenário universal, pois nacionalmente falando, são inúmeros os exemplos. O carioca sempre vai ser folgado, o mineiro quieto e o gaúcho orgulhoso. A questão é que somos tão diferentes entre nós mesmos, que nos tornamos únicos.

E aí está, portanto, a resposta do problema.

São as nossas diferenças que nos tornam únicos. O que nos diferencia é justamente aquilo que nos dá unidade.

Por isso afirmo: somos um povo sem unidade, mas somos únicos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Ponto de partida

Hello, hello!

Bom, como alguns sabem eu estou escrevendo textos para o Diário da Manhã. São "colunas" que saem uma vez por semana. Nelas falo sobre como está sendo a vida em Londres, faço comparações com o cotidiano que tinha em Pelotas e sobre o que tenho sentido. Enfim, retrato minhas experiências.

De algumas semanas pra cá, algumas pessoas têm me pedido para publicar os textos em um blog, ou algo do tipo. Pois bem, aqui está.

A idéia é publicar, em um intervalo de alguns dias, aqueles textos que JÁ saíram no jornal. Assim vocês poderão encontrar o que perderam por aqui, e descobrir o que é novo por lá. Embora eu entenda que no jornal é mais difícil de ver, já que as colunas não têm dia fixo pra sair.

De qualquer forma, vou postando aqui. Espero que gostem dos textos. Ah, e desde agora já peço para aqueles que puderem, me 'linkarem'. Fica mais fácil pra navegar e divulgar também. Farei o mesmo com os blogs que já conheço e frequento.

Era isso, primeiro texto amanhã já.

Valeu!