quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A despedida do meu ídolo


Quando a gente é criança tudo parece mais encantador. Vamos crescendo e, aos poucos, a verdade vai corroendo nossas ilusões e apagando nossos sonhos. Noel Gallagher, inclusive, fez uma música sobre isso. Fade Away o nome. No refrão, ele diz o seguinte:

- While we’re living the dreams we have as children fade away.

Perfeito. Mas não, desta vez não vou falar sobre música. Quero falar sobre uma válvula de escape que a vida me proporcionou neste final de semana. Um momento de pura nostalgia e de resgate de uma parte muito importante de mim que eu havia esquecido.

Refiro-me aquela vontade, aquela gana. Aquele incontrolável desejo. Querer algo tanto, mas tanto que passamos a realmente acreditar que vai se tornar realidade. Ficamos à mercê, apenas esperando o dia em que vai acontecer.

Mas não vai. E nem deveria.

Todo mandinho deseja ser jogador de futebol. Todo. Eu não fui diferente. Fazia parte do time do colégio, jogava botão (panelinha e puxador), pebolim, videogame, tinha incontáveis camisetas, 3 dentro x 3 fora, 3 x 1, gol a gol, “diblinha”, etc.

Pelo menos na minha geração, ser menino significava respirar futebol.

Sempre fui Gremista, por influência do meu pai. Ele bem que tentou me puxar pro lado do Pelotas também, mas acabou não vingando. Gostei mesmo do Grêmio. E como qualquer torcedor da minha geração, foi a melhor escolha que um garoto poderia fazer em termos de títulos.

Acompanhei Brasileiro, Copas do Brasil, Gauchões incontáveis.

Acompanhei o título da Libertadores e o vice do Mundial.

Óbvio que era novo. Sete anos, apenas. Não tenho memórias completas dos jogos. Apenas flashes, lances, gols. Mas estava lá, acompanhando. E torcendo como nunca torci. Porque é bem aquela história: quando somos jovens, nos apaixonamos mais fácil.

Vi Arce cruzando na área, Rivarola falhando e Adilson espancando. Roger cumprindo a sua, Goiano interceptando tudo que é passe e Arilson bebendo. Carlos Miguel correndo, Paulo Nunes esvoaçando seu cabelo loiro e Jardel cabeceando. Dinho cortando (os adversários).

Danrlei defendendo, falhando, torcendo e brigando.

Comemorando e chorando.

O Danrlei.

Hoje tenho outros ídolos. Escritores, músicos, cineastas, etc. Mas o Danrlei foi, com toda a certeza, o meu ídolo de infância.

Eu queria ser goleiro. Eu queria a camiseta de tijolo do Danrlei. Eu jogava a bolinha na parede só pra poder me jogar na cama e defender. Eu andava de meia de futebol, calção preto e camiseta de manga-longa.

Tudo pra ser igual ao Danrlei.

É ridículo. Uns vão dizer que é bichice, outros que é mongolice. Hipócritas. Aceitem ou não, toda criança tem seus ídolos.

A situação a qual me referi no início do texto foi justamente a despedida do Danrlei, que aconteceu no último final de semana, no estádio Olímpico.

Ver ele cantando com a torcida e chorando de emoção. Ver ele levar frango e ver ele voando pra pegar uma bola. Ver ele ser ovacionado ao ser substituído. Ver ele ter seu nome gritado.

Tudo isso me fez lembrar o quanto eu o idolatrava. O quanto eu o tinha como topo das minhas pretensões. Fez-me indagar, também, o momento em que perdi isso. Qual foi a hora em que esqueci que ele era meu ídolo?

Em que fração de segundo me esqueci o significado da palavra ídolo e passei a admirar jogadores que não são tudo isso. Pessoas que sei que não representam tanto.

Quando?

Tenho que agradecer. A despedida do meu ídolo serviu para eu resgatar esse sentimento. Serviu para que eu olhasse para o gramado, para o número em suas costas e pensasse:

- Cara, eu realmente costumava idolatrar esse cara.

E sigo...

5 comentários:

  1. Belo texto. Terminou-se o futebol paixão.

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  2. eu era muito frustrada por só ter visto aquele time jogando pela televisão. esse sábado foi um dos melhores dias da minha vida. sem palavras pra descrever todo mundo ali, na minha frente. Danrlei nunca foi meu favorito (Arceeeeeeeee), mas oh, muito amor ele chorando.

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  3. Baita texto! :)
    Acho que o Danrlei foi parte dos motivos que me fizeram gremista em uma família colorada.

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  4. Cara emocionante o texto! compartilho de todos sentimentos que tu colocou ai! do caralho! parabens!!

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